Ísis (em egípcio: Auset) foi uma deusa da mitologia egípcia,
cuja adoração se estendeu por todas as partes do mundo greco-romano.
Foi cultuada como modelo da mãe e da esposa ideais, protetora da natureza e da magia. Era a amiga dos escravos, pescadores, artesãos, oprimidos, assim como a que escutava as preces dos opulentos, das donzelas, aristocratas e governantes. Ísis é a deusa da maternidade e da fertilidade.
Os primeiros registros escritos acerca de sua adoração surgem pouco depois de 2500 a.C., durante a V dinastia egípcia. A deusa Ísis, mãe de Horus, foi a primeira filha de Geb, o deus da Terra, e de Nut, a deusa do Firmamento, e nasceu no quarto dia intercalar. Durante algum tempo Ísis e Hator ostentaram a mesma cobertura para a cabeça. Em mitos posteriores sobre Ísis, ela teve um irmão, Osíris, que veio a tornar-se seu marido, tendo se afirmado que ela havia concebido Horus. Ísis contribuiu para a ressurreição de Osiris quando ele foi assassinado por Seth.
As suas habilidades mágicas devolveram a vida a Osíris após ela ter
reunido as diferentes partes do corpo dele que tinham sido despedaçadas e
espalhadas sobre a Terra por Seth. Este mito veio a tornar-se muito importante nas crenças religiosas egípcias.
Ísis também foi conhecida como a deusa da simplicidade,
protetora dos mortos e deusa das crianças de quem "todos os começos"
surgiram, e foi a Senhora dos eventos mágicos e da natureza. Em mitos
posteriores, os antigos egípcios acreditaram que as cheias anuais do rio Nilo
ocorriam por causa das suas lágrimas de tristeza pela morte de seu
marido, Osíris. Esse evento, da morte de Osíris e seu renascimento, foi
revivido anualmente em rituais. Consequentemente, a adoração a Ísis
estendeu-se a todas as partes do mundo greco-romano, perdurando até à
supressão do paganismo na Era Cristã.
Na arte, Ísis foi originalmente retratada como uma mulher com um vestido longo e coroada com o hieróglifo que significava "trono". Por vezes foi descrita como portadora de um lótus ("Nymphaea caerulea"), ou como um sicômoro ("Ficus sycomorus"). A faraó, Hatshepsut, foi retratada em seu túmulo sendo amamentada por um sicômoro que tinha um seio.
Após ter assimilado muitos dos papéis da deusa Hathor, a cobertura de cabeça de Ísis passa a ser a de Hathor: os cornos de uma vaca,
com o disco solar inscrito entre eles. Às vezes, também foi
representada como uma vaca, ou uma cabeça de vaca. Normalmente, porém,
era retratada com o seu filho pequeno, Hórus (o faraó), com uma coroa e um abutre. Ocasionalmente, foi representada ou como um abutre pairando sobre o corpo de Osíris, ou com o Osíris morto em seu colo enquanto por artes mágicas o trazia de volta à vida.Na maioria das vezes Ísis é retratada segurando apenas o símbolo Ankh
com um pequeno grupo de acompanhantes, mas no período final de sua
história, as imagens mostram-na, por vezes, com itens geralmente
associados apenas a Hathor: o sistro sagrado e o colar símbolo de fertilidade "menat". No "The Book of Coming Forth By Day" Ísis está representada de pé sobre a proa da Barca Solar, com os braços estendidos.A estrela "Sept" (Sirius)
está associada a Ísis. O surgimento dela no firmamento significava o
advento de um novo ano, e Ísis foi igualmente considerada a deusa do
renascimento e da reencarnação, e como protetora dos mortos. O Livro dos
Mortos descreve um ritual especial, para proteger os mortos, que
permitia viajar em qualquer parte do mundo subterrâneo. A maior parte
dos títulos de Ísis tem relação com o seu papel de deusa protetora dos
mortos.
No Império Antigo, da III à VI dinastia egípcia, entre 2686 a.C. e 2134 a.C., os panteões das cidades egípcias variaram de região para região. Durante a V dinastia, Ísis pertenceu à Enéade da cidade de Heliópolis. Acreditava-se então que ela era filha de Nut e Geb, e irmã de Osíris, Néftis e Seth. As duas irmãs, Ísis e Néftis, muitas vezes eram representadas nos sarcófagos com grandes asas esticadas, como protetoras contra a maldade. Como deidade funerária, Ísis foi associada a Osíris, senhor do submundo (Duat), e foi considerada sua esposa.
A mitologia tardia (ultimamente em resultado da substituição de um outro deus do submundo, Anúbis,
quando o culto de Osíris ganhou mais importância) fala-nos do
nascimento de Anúbis. A narrativa descreve que, como Seth negava um
filho a Néftis, esta então disfarçou-se como Ísis, muito mais atraente,
para seduzi-lo. O plano falhou, mas Osíris passou a achar Néftis muito
atraente, pensando que ela era Ísis. Eles copularam,
o que resultou no "nascimento" de Anúbis. Em outra narrativa, Néftis
deliberadamente assumiu a forma de Ísis, a fim de enganar Osíris e assim
obter dele a paternidade de seu filho. Com medo das represálias de
Seth, Néftis persuadiu Ísis a adotar Anubis, de modo a que a criança
não viesse a ser descoberta e morta. Essa narrativa explica tanto porque
Anúbis é visto como uma divindade do submundo (uma vez que se torna
filho de Osíris), quanto porque não poderia herdar a posição de Osíris
(uma vez que não era um herdeiro legítimo), preservando posição de
Osíris como Senhor do submundo. Deve ser lembrado, no entanto, que este
novo mito foi apenas uma criação posterior do culto de Osíris que queria
retratar Seth em um papel de maldade, como inimigo de Osíris.
Em outro mito de Osíris, Seth preparou um banquete para Osíris
apresentando uma bela caixa e declarando que, quem coubesse
perfeitamente nela, poderia ficar com ela como um presente. Ora, Seth
havia medido Osíris enquanto este dormia, certificando-se assim que este
era o único a caber perfeitamente na caixa. Após vários dos presentes
terem tentado encaixar-se nela, chegou a vez de Osíris, que a preencheu
perfeitamente. Seth então fechou a tampa da caixa, transformando-a num
caixão para Osíris. Em seguida, Seth afundou a caixa fechada com Osíris
nas águas do rio Nilo, que a levaram para muito longe. Assim que soube
do ocorrido, Ísis foi procurar a caixa, para Osíris pudesse ter um
enterro apropriado. Foi encontrá-la na longínqua Biblos, cidade na costa da Fenícia, e trouxe-a de volta ao Egito, ocultando-a em um pântano. Entretanto, naquela noite Seth foi à caça,
vindo a encontrar a caixa oculta. Enfurecido, Seth retalhou o corpo de
Osíris em catorze pedaços, e os espalhou por todo o Egito, para se
certificar de Ísis jamais poderia encontrá-los e dar assim um enterro
adequado a Osíris. Ísis e Néftis, sua irmã, dedicaram-se então à busca dos pedaços, tendo conseguido encontrar apenas treze. Um peixe havia engolido o último, o pênis, que Ísis refez utilizando magia. Desse modo, com todas as partes reunidas do corpo morto de Osíris, ela pode conceber Hórus.
O número de partes do corpo de Osíris é descrito de forma variável nas
paredes de diversos templos, entre catorze e dezesseis e,
ocasionalmente, em quarenta e duas, uma para cada nomo ou distrito.
Através da fusão de seus atributos com os de Hathor, Ísis tornou-se a mãe de Hórus, mais do que sua esposa, e isto, quando as crenças acerca de Ra absorveram Atum em Atum-Ra, sendo ainda necessário ter-se em conta que Ísis integrou a Enéade, como a esposa de Osíris.
É necessário explicar, entretanto, como é que Osíris que (como Senhor
da Morte) estava morto, pode ser considerado pai de Hórus, que não era
considerado morto. Este conflito nas narrativas conduziu à evolução da
ideia de que Osíris necessitava de ser ressuscitado e posteriormente, à
versão da Lenda de Osíris e Ísis de que o grego Plutarco, no século I, em "De Iside et Osiride", nos deixou a versão mais extensa atualmente conhecida.
Um outro conjunto de mitos tardios detalha as aventuras de Ísis após o
nascimento do filho póstumo de Osíris, Hórus. Foi dito que Ísis deu à
luz Hórua e Khemmis, pensa-se, no delta do rio Nilo.
Muitos perigos surgiram para Hórus após o seu nascimento e Ísis navegou
com o pequeno Hórus para escapar da ira de Seth, o assassino de seu
esposo. Em um instante, Ísis curou Hórus de uma picada mortal de escorpião, além de outros milagres com relação ao cippi,
as placas de Hórus. Ísis protegeu e promoveu Hórus até que estivesse
suficientemente grande e forte para encarar Seth e tornar-se,
subsequentemente, faraó do Egito.
De modo a ressuscitar Osíris com o fim de gerar um filho, Hórus, era necessário a Ísis "aprender" magia (que por muito tempo havia sido um atributo seu, antes do surgimento do culto a Ra), e então passou a afirmar-se que Ísis enganou Ra (Amon-Ra ou Atum-Ra), fazendo com que este fosse picado por uma serpente
egípcia - para o que apenas ela possuía a cura -, para que este lhe
dissesse o seu nome "secreto". Os nomes das divindades eram secretos, de
domínio apenas dos altos líderes religiosos, uma vez que esse
conhecimento permitia invocar o poder da divindade. Que ele fosse usar o
seu nome "secreto" para "sobreviver" implica que a serpente tivesse que
ser uma divindade mais poderosa do que Ra. Ora, a mais antiga divindade
conhecida no Egito foi Uadjit, a cobra egípcia, cujo culto nunca foi suplantado na antiga religião egípcia.
Como uma divindade da mesma região, teria sido um recurso benevolente
para Ísis. O uso dos nomes secretos tornou-se um elemento central nas
práticas mágicas egípcias do período tardio, e Ísis é invocada muitas
vezes para que use "o verdadeiro nome de Rá" durante os rituais. Ao
final do período histórico do antigo Egito, após a sua ocupação pelos
gregos e pelos romanos, Ísis tornou-se a mais importante e poderosa
divindade do panteão egípcio por causa de suas habilidades mágicas. A
magia é um elemento central em toda a mitologia de Ísis, possivelmente
mais do que para qualquer outra divindade egípcia.
Após a conquista do Egito por Alexandre o Grande o culto de Ísis difundiu-se através do mundo greco-romano. No período helenístico Ísis adquiriu uma nova posição como deusa dominante no mundo mediterrânico.
Cleópatra vestia-se como Ísis quando aparecia em público, e era chamada de Nova Ísis.
Em Roma, Tácito registrou que após o assassinato de Júlio César, foi decretada a construção de um templo em honra de Ísis; Augusto
suspendeu esta construção, e tentou trazer os Romanos de volta às
antigas divindades, que eram estreitamente associadas à figura do
Estado. Eventualmente o imperador Calígula
abandonou os cuidados de Augusto em favor do que foi descrito como
"cultos orientais", e foi em seu reinado que o festival de Ísis foi
estabelecido em Roma. De acordo com Flávio Josefo, Calígula vestiu-se como uma mulher e tomou parte nos mistérios que instituiu.
Paralelos com a Virgem Maria
Alguns eruditos traçam paralelos entre a adoração de Ísis na época final do Império Romano e a adoração à Virgem Maria cristã. Quando o cristianismo começou a ganhar popularidade, difundindo-se na Europa
e em todas as partes do Império, os primitivos cristãos converteram um
relicário da Ísis egípcia em um para Maria e de outros modos "deliberadamente tomaram imagens do mundo pagão".
Embora a Virgem Maria não seja idolatrada pelos cristãos (é venerada tanto pelos Católicos quanto pelos Ortodoxos), o seu papel, como figura de mãe compassiva, tem paralelos com a figura de Ísis. O historiador Will Durant observou que "os
primitivos Cristãos por vezes fizeram os seus cultos diante de estátuas
de Ísis amamentando o filho Hórus, vendo nelas uma outra forma do nobre
a antigo mito pelo qual a mulher (isto é, o princípio feminino) é a
criadora de todas as coisas, tornando-se por fim, a "Mãe de Deus"". Hórus, sob este aspecto infantil, foi denominado Harpócrates pelos antigos Gregos.
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